Minha escolha, minha profissão

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sexta-feira, 24 de maio de 2013

Gravidez sob pressão

 
Por -  Paula Montefusco, filha de Regina e Antonio
Em - 21.05.2013
 
 
Eclâmpsia. O termo complicado esconde uma doença infelizmente bem comum, que representa uma das maiores causas de morte entre as grávidas no Brasil e no mundo.A média é de 50 mil mulheres por ano em todo o planeta, mas acontece com maior frequência nos países subdesenvolvidos. Isso porque, muitas vezes, não é detectada a tempo, culpa dos pré-natais deficientes ou inexistentes das regiões mais pobres. Eclâmpsia vem do grego e significa “luz brilhante”. Nos estágios mais graves da doença, a gestante enxerga pontos luminosos. A causa exata ainda é desconhecida. O que já se sabe é que ocorre uma reação imunológica na gravidez, sendo que na pré-eclâmpsia, o corpo da mãe passa a "estranhar" as células da placenta e do feto. É como se o bebê fosse visto como um ser invasor pelo organismo. A “cura” é radical: dar à luz o bebê. Com o nascimento, na maioria dos casos o mal se resolve. Os sintomas mais graves podem ser confundidos pela gestante com outros problemas mais corriqueiros: inchaço, dor de cabeça, dores no estômago e alterações de visão (que podem ser acompanhadas por crises de dor de cabeça). Se você está fazendo um bom pré-natal, as alterações serão percebidas pelo médico, que vai checar a pressão, verificando o quadro de hipertensão e pedir um exame de urina para confirmar se há presença de proteína.
Caso o quadro de pré-eclâmpsia moderada evolua para uma pré-eclâmpsia grave, fígado e rins podem ser afetados. Se você experimentou algum dos sintomas descritos, conte para o seu médico o mais rápido possível. Melhor pecar pelo excesso de zelo. Outro problema desencadeado pela doença é a diminuição do volume de plaquetas, que são as células responsáveis pela coagulação sanguínea. Em casos gravíssimos de pré-eclâmpsia ou eclâmpsia existe o risco de rompimento do fígado e acidente vascular cerebral (AVC). Quando a pré-eclâmpsia grave evolui para a eclâmpsia a mulher tem convulsões e pode até entrar em coma. Um dos sinais de que a pré-eclâmpsia pode virar eclâmpsia é exatamente quando ela enxerga pontinhos luminosos, a tal luz brilhante. Isso significa que o sistema nervoso central, que controla tudo o que acontece no corpo, está irritado. Alerta máximo: as convulsões estão chegando.
Período crítico
Os sintomas costumam aparecer a partir da 20ª semana de gravidez, mas podem vir antes se a mulher já for hipertensa. Neste caso, podemos falar em hipertensão agravada pela gravidez. No caso das que nunca tiveram pressão alta antes, a hipertensão pode ser induzida pela gestação. Mas a pré-eclâmpsia se configura se existirem os três fatores ao mesmo tempo: hipertensão, inchaço e perda de proteína pela urina. Mesmo assim, é possível que uma crise hipertensiva evolua para pré-eclâmpsia ou até mesmo para eclâmpsia sem passar pelo estágio mais moderado da doença. Preste atenção e anote: se a pressão arterial está acima de 16 por 11 por mais de seis horas o quadro já é grave.
Grupo de risco A pré-eclâmpsia se manifesta em em 7% a 10% das gestantes e a eclâmpsia, em 1% a 2% das pré-eclampticas. O quadro é mais frequente em mulheres que esperam o primeiro filho, são hipertensas, obesas ou diabéticas, têm histórico da doença na família, doença renal crônica, engravidaram antes dos 18 anos ou depois dos 40, esperam gêmeos ou bebês muito grandes (mais de 4 kg). Quando a doença atinge um estágio grave a taxa de mortalidade materna chega a 30% – para o bebê, fica entre 5% e 11%. A hora de engravidar novamente deve ser pensada: quanto mais grave o caso da doença, maior a chance de que ela se repita. Alguns dos sintomas da pré-eclâmpsia são muito comuns na gravidez, como o inchaço, que aparece em 50% das gestantes. Como saber se o simples inchaço dos pés não está mostrando que algo não vai bem? É que o inchaço decorrente da pré-eclâmpsia é um pouco diferente do edema normal da gravidez: fique atenta se ele vier de manhã e atingir a região lombar, o rosto, pernas e braços e provocar um súbito aumento de peso.
Como prevenir Mulheres que têm casos da doença na família devem tomar cuidado redobrado e começar a se tratar antes mesmo da gravidez. Isso inclui ficar de olho na dieta e, se preciso, controlar a pressão com medicamentos anti-hipertensivos. O aumento do cálcio na dieta também é recomendável. Os exames devem estar em dia e podem ajudar a detectar a possibilidade de pré-eclâmpsia antes mesmo que ela apareça. Exames de sangue, urina e o exame de fundo de olho irão dizer se está tudo ok com a mulher. Depois de engravidar, exames que medem o fluxo sanguíneo entre mãe e bebê vão garantir que a criança está recebendo os nutrientes necessários para crescer. Os exames previstos no pré-natal são importantes para fazer o controle da vitalidade fetal.
Como tratar Quanto antes a pré-eclâmpsia ou eclâmpsia aparecer, pior. Isso porque a medida mais eficaz para tratar a doença é fazer o parto. A partir de 37 semanas de gestação o feto é considerado maduro, mas muitas vezes precisamos fazer o parto antes desta data para salvar a mãe e o bebê. Antes disso, é preciso analisar a situação de saúde do feto e da mãe, a possibilidade de evolução do quadro de pré-eclâmpsia para eclâmpsia e o risco de complicações, especialmente nos órgãos-alvo da mulher: cérebro, coração e rins. Enquanto o bebê ainda não está pronto para sair, seus sinais vitais são vigiados de perto pelos médicos; a mãe, dependendo da gravidade do caso, pode ficar internada na UTI, sob observação constante.
Muitas vezes é necessário que ela tome medicamentos anti-hipertensivos, além de corticoides, que vão acelerar o amadurecimento dos pulmões da criança. Outra medida é a redução do sal na dieta e o repouso, embora o último seja controverso, já que alguns médicos defendem que a atividade física leve favorece as gestantes cardíacas. Apesar de configurar gravidez de risco, a doença não exclui totalmente a possibilidade de parto normal, desde que a mulher tenha hipertensão sob controle e boa dilatação.
E depois do parto? Se estiver acima do peso, a mulher pode desenvolver uma síndrome metabólica, que vai dificultar ainda mais a eliminação do peso ganho com a gravidez. Em 25% dos casos a eclâmpsia ocorre no pós-parto. Por isso, é importante que a nova mãe fique em observação. Se ela está vendo pontos brilhantes ou está com dor abdominal forte, atenção.
Quando a mulher não é hipertensa crônica, a pressão arterial se normaliza em seis ou sete semanas e ela consegue levar a vida normalmente até decidir ter o próximo filho, que deve ser planejado. O pré-natal deve ser cuidadoso e o recomendável é esperar no mínimo dois anos entre o mais velho e o segundo filho.
O que acontece com a mãe
  • Descolamento de placenta
  • Insuficiência renal
  • Rompimento do fígado
  • Hemorragia cerebral
O que acontece com o bebê
  • Diminuição do líquido amniótico e parto prematuro
  • Retardo de crescimento intrauterino
  • Sofrimento e morte fetal

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Uma leitura que nos permite refletir....vale a pena!!!


Meu filho, você não merece nada

A crença de que a felicidade é um direito tem tornado despreparada a geração mais preparada
ELIANE BRUM
   Divulgação
Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.
Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.
Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.
Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.
Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.
É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?
Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.
Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.
Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.
A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.
Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.
Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.
Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.
Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.
O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.
Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.
Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.
Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.
Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba